sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

E um dia...

Eu tinha quatro anos e estava, como de costume, sentada à minha mesinha de Lego. Do jeito que eu adorava passar minhas tardes: montando pecinhas e sendo observada pela minha boneca July e o ursinho branco, que ficavam sentados à minha frente apenas admirando minha habilidade e destreza com o brinquedo.
Em meio a essa atmosfera tão serena, minha mãe chega, me tira da mesinha e diz que tem algo a conversar comigo... não era o que ela costumava fazer. Até hoje, se minha mãe tem alguma coisa pra tratar comigo, ela quase nunca vai ao meu encontro, ao contrário, ela berra a plenos pulmões que eu vá encontrá-la onde quer que ela esteja. Mas, especialmente esse dia, ela não fez isso.
Depois que chegamos ao quarto dela, ela me pôs em cima da cama e disse:
- Nana, você poderia ter tido um irmãozinho.
Claro que ela não falou dessa maneira, teve que contar a história toda da sementinha e do problema que a sementinha teve, enfim, ela tinha abortado espontaneamente.
Na época eu não sabia se isso era ruim ou não, não sabia se ela tava triste, não entendia o que tinha acontecido mas, depois desse dia, eu comecei a querer aquele irmãozinho que não veio.
Ora bolas, minha tia tinha três filhos!! E, consequentemente, cada primo meu tinha dois irmãos! E pior! Eles moravam num condomínio com outra tia e mais TRÊS filhos!! Eu não tinha nenhunzinho. Sempre tive com quem brincar, tinha várias amiguinhas no bloco onde morava, mas elas não eram minhas irmãs... e eu também não queria que fossem, a maioria delas não entendia meus desenhos e emplicavam com minhas bonecas de cabeça grande. Enfim, era só eu meu pai e minha mãe. E quando eles iam trabalhar, era só eu, a Rosângela e o cartoon network. Nada de irmão... no fim, o que me sobrava era a mesinha do Lego. Com a July e o ursinho branco me olhando.
Com seis anos, veio minha mãe denovo, me chamar pra conversar:
- Filha, agora sim você vai ter um irmãozinho!
E eu pensava: "Graças aos céus! meus dias de solidão estão contados! Uhul!". Festejei aquela gravidez como se fosse realmente meu presente de dois anos atrás. Contava pra todo mundo na escola que eu ia ter um irmãozinho (que depois fiquei sabendo que seria uma irmãzinha) e isso e aquilo.
Quando minha mãe fez 7 meses de gravidez, a Manu (o nome já tava pré-decidido) ameaçou vir antes da hora. E isso fez minha mãe passar quase um mês inteiro de repouso total, sem mal se levantar da cama, só comendo jujuba. À partir desse tempo eu comecei a achar que meus problemas não estavam necessariamente sendo resolvidos... ora, minha mãe não me dava mais atenção. Comigo, era só aos gritos. Tudo era "Não pode", "Não faz", "Vai brincar ali", "Estão de chamando lá embaixo"... ela ficava nervosa, nem me fazia carinho mais.
Quando a Manu nasceu e veio pra casa, dizem as más línguas que eu dormi no tapete da sala, pra chamar a atenção. Não tava sendo do jeito que eu queria!! Ela era muito pequena e, se não abria nem os olhos, não tinha como brincar comigo! Comecei a me indignar, essa garotinha intrusa, além de não resolver meus problemas ainda toma meus pais de mim! Desgraça. Eu mereço.
Depois de um tempo ela foi crescendo e meu pesadelo aumentando, na mesma proporção. Eu tinha 8 anos já e ela 1 e pouco. Eu queria ver Chiquititas e me arrumar que nem a Mili fazia. Tinha uma caixinha com todos os meus pinduricalhos que me faziam parecer uma chiquitita, passava horas na frente do espelho arrumando meu cabelo pra que quando comecasse o novo episódio eu já estivesse vestida à carater. E o ritual se repetia todos os dias, da mesma maneira, sempre fui meio metódica. O problema era quando a Minha Maldição entrava no quarto e queria assistir ao programa comigo. A desgracinha não podia simplesmente sentar-se à frente da TV e se comportar como um ser humano. Ela tinha que por TODA a minha organização a baixo! E pior! Depois de completar o saqueamento dos meus frufru's, ela ia embora! Só me restava chorar sobre o leite derramado, porque "ela é só um bebê".
Como toda criança, a Manu descobriu que se gritasse, consegueria o que queria. Mas isso não funcionava sempre. Não com meus pais, que não davam muita bola pros gritos dela. Eu dava. Eu queria morrer quando ela ameaçava chorar...
Quando deu a idade, ela foi fazer o maternal na escola onde eu estudava. O que era uma merda. Eu era uma pré-adolescente que queria me ver longe de qualquer coisa que tivesse menos de 12 anos de idade e a Manu, tadinha, quando me via, saía correndo pra me abraçar e me dar "beijinhos" melecados, em frente aos meus amigos pseudo-descolados. Foi por pouco tempo também. Mudei de escola e por uns anos a gente quase não se via: eu estudava de manhã e ela à tarde. Era lindo.
O tempo passou rápido demais, e hoje é ela quem é a pré-adolescente um dos meus maiores mimos. Depois de grande eu comecei a gostar muito da coisinha indesejada, e hoje quando volto tarde pra casa, gosto de dar um beijinho de boa noite nela e a cobrir direito com o cobertor.
Talvez ela não tenha sido minha companhia de infância, mas hoje eu gosto muito de tê-la por perto. O problema é que ela anda crescendo tão rápido que com 13 anos já vai estar bem maior que eu.
Por que que eu fui pedir uma irmã...

Agora, uma sessãozinha de fotos:


Essa sou eu e minha mesinha de Lego


Essa é a Manu e meu pai, quando ela tinha seus 3 anos e ainda me aporrinhava.


Esta é a Manu com 11 anos, tirando foto de celular e fazendo biquinho cafona. Isso não fui eu quem ensinou...

5 comentários:

Anônimo disse...

no meu caso eu to no papel da sua irmã, eu que atormentava , eu que chamava atenção. mas isso é bom, não cheguei a desejar um irmão ou irmã, tava satisfeito. é bom ter com quem brincar, conversar ou encher o saco em casa.
e que gracinha na mesinha do lego ;]

Anônimo disse...

q gordinha vc criança hein...
ea8ueauheuaeh
irmãzinhas pre-adolescentes são demais.

Anônimo disse...

é quando a gente não tem irmão que a gente tenta mostrar aos que tem o valor que é poder ter eles. e outra, vc tem uma foto igualzinha a da sua irmã fazendo biquinho pro espelho que eu sei.

Vivian Resende disse...

ah nããão, a foto na mesa do lego não abriu, pô. :/
Ah, e eu sou caçula, vim 8 anos depois do meu irmão, 9 depois da minha irmã. Minha mãe também teve TRÊS filhos, mas os dois mais velhos quebravam-se um ao outro quando pequenos e, quando eu vim, já não tinha mais graça brincar comigo porque eles já eram tão maiores... aí eu enfileirava minhas bonecas no quarto e passava o dia inteiro conversando com elas. :) Acho que nada disso me rendeu um complexo mais grave nas fases posteriores, pelo menos eu não percebo. :)
Amei o post, Mari.
beeijo

Lorena disse...

Iés,você voltou!
Eu nunca estive sozinha,mas,ao contrário de você, eu é que era apurrinhada! era assim que meu irmão descontava o ciúme dele >/
e eu também sei que você tem uma foto do mesmo jeito, até a posição das mãos!
não consegui te ver criança =(